É impossível mencionar tragédia e não mencionar teatro ou Shakespeare. O teatro é o meio de maior impacto para a tragédia. É no teatro onde se desenvolve, e só é possível ser desse modo, as grandes sutilezas da arte trágica. No palco, o personagem trágico adquire dimensão quase palpável. Os gestos, o cenário e a iluminação também são fundamentais para a composição do momento, tornando a atmosfera ainda mais densa. Um mero posicionamento pode causar um efeito mais preciso e devastador do que o pronunciamento. A própria palavra adquire maior impacto com efeitos cenográficos. Basta citarmos a famosa cena da tempestade de peça trágica Rei Lear. A tempestade é posta como uma coadjuvante do personagem. Suas palavras avultam-se sob os trovões e a chuva. A tempestade é um catalisador de emoções. Para o grande crítico literário Antônio Cândido, o teatro é uma arte bem diversa da literatura. Se na literatura a palavra é fonte da personagem, no teatro a personagem é fonte da palavra, graças à metamorfose do ator em ser fictício. No palco, a personagem já fala antes de pronunciar a primeira palavra. O silêncio do grande ator pode ser mais eloquente do que centenas de palavras, enquanto na literatura o próprio silêncio tem de ser mediado por palavras.
Prof. João Artur Izzo
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